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Para um terapeuta, por vezes pode encontrar aquele cliente que começa a aproximar-se fisicamente. Talvez até faça movimentos para tocar. O conteúdo das conversas pode começar a ser muito erotizada. Para um cliente, por vezes pode sentir as palavras do terapeuta a envolver de forma diferente. Talvez até criar a imagem que pode ser o seu rochedo, nesta nova viagem. E que poderá contar com o terapeuta para tudo! Mas vá, será que isto acontece mesmo!? Existe sedução em terapia?

No campo da Psicoterapia, muitos são aqueles que consideram Sigmund Freud como o pai da Psicoterapia moderna. É um facto que muitas das suas regras para o contexto psicoterapêutico ainda são válidas e muito praticadas.

Freud também falou num conceito ao qual denominou como "Amor Transferencial". De um modo simples, para a Psicanálise, dois dos movimentos que ocorrem em Psicoterapia são Transferência Contra-Transferência.

Transferência é um movimento que ocorre, da parte do cliente para o terapeuta. Neste movimento, o cliente transfere sentimentos e partes objectais de elementos importantes da sua vivência, para a figura do terapeuta. Por exemplo, o cliente pode projectar elementos da sua relação com o pai para a figura do terapeuta, transferindo essa relação, como se o terapeuta fosse uma espécie de figura parental para a cliente. 

Contra-Transferência é um movimento que ocorre, da parte do terapeuta para o cliente. Neste movimento, o terapeuta reage ao material que o cliente transferiu para si, tentando ser o mais neutral possível. No entanto, o terapeuta é um ser humano com as suas próprias crenças, ideias, sentimentos e vivências. Muitas vezes, esse movimento contra-transferencial não é tão neutro quando se gostaria. 

Em algumas das vezes, a transferência ocorre a um nível pulsional, o que faz com que o cliente fantasie uma relação amorosa com o terapeuta, fazendo-o o seu objecto de relação libidinosa. Este movimento pode ser apenas fantasioso ou mesmo real, no sentido do cliente se poder sentir atraído/a pelo terapeuta, quer a nível emocional e/ou a nível físico. Como exemplo visual, podem encontrar alguns episódios da série "In Treatment", na versão americana e "Terapia", na versão portuguesa. 

Para além do conceito psicanalitico, a realidade psicoterapêutica tem demonstrado que podem surgir clientes sedutores, clientes que utilizam movimentos de charme, físicos ou discursos apelativos e mesmo podendo ser erotizados. Alguns quadros podem demonstrar um jogo de poder, um testar da atitude e capacidade do terapeuta, comportamentos mais desviantes ou perturbações da esfera sexual, como a ninfomania (desejo excessivo e viciante em actividades sexuais). Por outro lado, um funcionamento mais sexualizado pode ter como base um processo de aprendizagem mal adaptativo. 

Nestes casos, o terapeuta deve ter a postura ética e moral de não corresponder aos avanços do cliente. Se por ventura, algo pressupor que o terapeuta não consegue tomar essa posição, nesse sentido deverá encaminhar esse caso para outro colega. 

Por esta altura, o/a carissimo/a leitor/a pode estar a pensar que estou a ser parcial na minha postura, de levar apenas para o lado do cliente. Deixe-me assegurar que o lado da sedução também acontece movido pelo terapeuta. Quando é realizado pelo terapeuta, podemos pensar em três possibilidades.

Insinuação sexual - aproveitando-se de varáveis do contexto, o terapeuta pode tentar seduzir o cliente, com o intuito de estabelecer contactos sexuais. 

Insinuação de poder - para alguns terapeutas, as condições de terapia e a relação terapêutica pode originar uma relação "one up-one down". Nesta relação, o terapeuta é visto como sendo o técnico detentor do conhecimento e das soluções para a cura do cliente. Essa postura pode ser demonstrada pelo cliente ou pelo próprio terapeuta. Nesse sentido, alguns terapeutas poderão aproveitar-se da sua postura, demonstrando superioridade e poder. 

Insinuação de dependência - o objectivo de qualquer terapia é ajudar a pessoa a ultrapassar as suas dificuldades e certificar que a pessoa possui as estratégias adequadas para tornar-se e/ou manter-se autónomo/a. Esta é uma relação de prestação de serviços, com um final definido. Alguns terapeutas, usando argumentos sedutores, podem "criar" a ideia que são fundamentais para a vida do cliente, o que faz com que a pessoa continue a procurar o terapeuta, mesmo que esteja em condições para ser autónomo. 

Algumas das possibilidades aqui descritas podem acontecer com mais frequência do que outras. A relação terapêutica ainda é visto, por alguns, como sendo uma relação de desigualdade, onde um detêm todo o poder e outro é o sujeito passivo, que apenas recebe as lições necessárias para poder sair da situação em que se encontra. Neste sentido, poderá encontrar profissionais menos éticos que se aproveitem dessa situação.

Nas profissões de saúde mental, como a Psicologia, a actuação dos profissionais é regulamentada por Leis cujo objectivo é evitar estas situações. Isto não quer dizer que não aconteçam ou que não possam acontecer. Ao acontecerem, a pessoa poderá accionar meios jurídicos a nível das Ordens, assim como a nível de processos civis ou criminais. 

Ao escolher, pense na credibilidade do profissional. Poderá evitar grandes dores de cabeça! 

 

 

 

 


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