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Milton Erickson é considerado, por muitos, o pai da Hipnose Moderna. As suas ideias e a sua forma pouco ortodoxa de fazer Hipnose e Psicoterapia trouxeram revoluções e novos princípios que, nos dias que correm, são mantidos, divulgados e incentivados por Ericksonianos. Vamos dar uma vista de olhos ao "tailoring" e ao principio de utilização.

Com o crescimento do campo da Saúde Mental e da Psicologia, também o campo da Psicoterapia começou a desenvolver-se. Embora as ideias da Psicoterapia estivem a ser tidas em conta por agentes de saúde, é indiscutível o contributo que Breuer e Freud deram na criação da Psicanálise e no estabelecimento de princípios e condições que ainda são mantidos, não só em Psicanálise, como também noutros modelos de intervenção.

A discordância com as ideias de Freud e o aparecimento de novos paradigmas, na sociedade, deu origem à criação de novas formas de intervenção. Algumas delas continuaram a ter as suas raizes na teoria psicodinâmica, outras beberam a sua inspiração de princípios existenciais. A centração no ser humano levou a perspectivas mais humanistas, enquanto que a Revolução Cognitiva deu origem a intervenções mais cognitivas e até comportamentais. 

Com o avançar das metodologias de investigação, a eficácia em Psicoterapia começou a ser investigada. Para tal, foram privilegiados modelos de intervenção que pudessem ser estandardizados, isto é, o modelo seguiria fases que seriam aplicadas, de igual forma, a todas as pessoas. Se o/a leitor/a se interessar pelo campo da Psicoterapia, facilmente pode encontrar manuais sobre a aplicação de modelos de Terapia Cognitivo-Comportamental, no geral e para perturbações especificas. 

Embora tais manuais sejam úteis, existe pelo menos um risco. O terapeuta que se treina para aplicar mecanicamente um modelo poderá perder o foco em características especificas e únicas da pessoa que tem à sua frente, assim como elementos da relação terapêutica, que implicam um estar e investimento mais humano, por parte do terapeuta. 

As Abordagens Ericksonianas à Hipnose e Psicoterapia nunca foram sistematizadas, manualmente, por Milton Erickson. O que Erickson passava para os seus estudantes e seguidores eram sim princípios orientadores, princípios estes que Erickson considerava fundamentais para uma intervenção estratégica bem sucedida e breve. Mais tarde, alguns dos seus alunos tais como Ernest Rossi, Jeffrey Zeig, Brent Geary, Bill O'Hanlon, Sidney Rosen, George Burns, Stephen Lankton entre outros, elaboraram várias obras para organizar os métodos de Erickson. Entre esses princípios temos o "tailoring" e a utilização.

Para Erickson, cada individuo é um ser singular, com aspectos que o tornam único. Para além disso, as necessidades e objectivos que levam cada pessoa à terapia são diferentes, um dos outros. Duas pessoas podem chegar à terapia com indicações de uma Depressão. Embora alguns critérios e sintomas possam estar presentes, é possível que a forma com que lidem com a situação, o impacto que a situação lhes traz e a forma como reagem, seja completamente diferente. Nesse sentido, também a intervenção poderá ter de ser diferente, mais adequada para cada um. "Tailoring", realizar uma terapia à medida, assenta do principio do terapeuta adaptar-se às características únicas do sujeito e da situação, acabando por desenvolver um processo único para cada pessoa, respeitando a sua individualidade e os seus próprios recursos. 

Reconhecendo que cada um é único, assim como cada situação, podemos conceber que o indivíduo traga determinados aspectos para a terapia. Por exemplo, face a uma mesma situação, é possível que duas pessoas assimilem e interpretem a realidade de forma diferente. Tal pode ser visto pela linguagem usada, a postura do cliente, entre outros aspectos. Nesse sentido, o terapeuta experiente realiza um movimento em que usa, de forma estratégica, essas características de modo a conseguir entrar na realidade do cliente, ao mesmo tempo que estabelece e fortalece a relação terapêutica. De uma forma simples, este é o principio de utilização.

Mais do que a aplicação de Hipnose, profissionais de saúde mental poderão achar úteis a exploração destes princípios Ericksonianos, pois estes princípios são transversais a modelos teóricos. O terapeuta pode desenvolver flexibilidade aplicando esta forma de ver terapia, para todas as situações e casos em que a manualização psicoterapêutica pode causar o surgimento de barreiras, tanto na parte de avaliação como intervenção.

Em última análise, todos os terapeutas devem respeitar a humanidade das pessoas que nos chegam, com o propósito de verem o seu sofrimento reduzido e poderem olhar para a vida de uma forma diferente e melhor. 


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