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Quais são as suas preferências num Psicoterapeuta? Prefere uma pessoa muito ornamentada ou simples? Prefere alguém que seja um companheiro de viagem ou um chefe? Ou talvez prefira alguém que o/a "coloque em Hipnose" em 45 segundos ou ajude-o a experienciar a fenomenologia da Hipnose, a seu tempo? No fundo, a questão que coloque é: Prefere uma Hipnose Clínica como uma forma de arte, ou um espectáculo visual?

A percepção de Hipnose tem sofrido uma constante mudança. E, certamente, continua a sofrer mudanças, mesmo com as evoluções nas áreas das neurociências e nos avanços das técnicas de imagiologia. 

Hipnose foi associada ao Mesmerismo, uma prática que acabou por ser desacreditada por uma Comissão encomendada por Luís XVI, liderada por Benjamin Franklin. Embora ainda com uma base de Mesmerismo, foi James Braid que mudou o foco de atenção do Mesmerismo para o Hipnotismo (Hipnose), termo que se tornou associado a esta nova prática. 

Hipnose foi associada ao Histerismo, quando Jean Martin Charcot defendeu com a Histeria estaria directamente ligada à Hipnose. Para Charcot, só pessoas com Perturbação Histérica poderiam ser hipnotizadas. 

Freud, apesar das influências de Charcot e Bernheim, decidiu abandonar Hipnose, em função de técnicas criadas, em prol da sua nova teoria: Psicanálise. A partir deste momento, Hipnose cai perante a comunidade médica e cientifica, pelo menos aqueles que seguiam a ideologia de Freud. 

Liébeault e Bernheim, os representantes da Escola de Nancy, após uma vasta produção cientifica de estudos sobre Hipnose, começaram a desenvolver a ideia de utilizar a linguagem da sugestão com os seus pacientes, num estado de vigília, conversando com eles e pedindo feedback sobre o que sentiam, pensavam e agiam. Hipnose tornou-se numa base para a Psicoterapia. 

Não será um exagero dizer que até ao período de estudos de Clark Hull e o grande marco deixado por Milton Erickson, Hipnose tornou-se um artificio usado por artistas de entretenimento, de modo a aumentar a expectativa e a imagem dos seus espectáculos. Quando solicitada à comunidade médica o uso de Hipnose, foram estes artistas que treinaram médicos, no uso de Hipnose. 

Estes artistas usavam a Hipnose de um modo autoritário, directo, mostrando que o Hipnotista tinha todo o poder e que a pessoa só precisaria de seguir os comandos, sem questionar ou fazer mais alguma coisa. Ou seja, era solicitado à pessoa um papel passivo e o Hipnotista assumia o controlo da situação.

Para além desta postura, o artista tinha como hábito usar fenómenos hipnóticos de uma forma visualmente marcante e espectacular. Por exemplo, era regular o uso da Levitação do Braço, Catalépsia (nomeadamente a extrema rigidez corporal), Amnésia e, talvez a mais popular, Regressão de Idade. Desta forma, o médico ou outro profissional de saúde, iria adoptar estar postura e estilo com os seus pacientes, em contexto clínico

Erickson trouxe Hipnose para o campo da Psicoterapia, como uma forma de arte comunicacional, entre terapeuta e cliente. Hipnose é vista como uma conjunto de experiências fenomenológicas naturais, em que o papel do terapeuta passa por criar condições para que estas experiências fenomenológicas surjam e utilizá-las para elicitar recursos, oferecer novas possibilidades, regular cognições, emoções e comportamentos. Nesta forma de ver Hipnose, existe um maior foco no uso da linguagem, em vez de artifícios externos. Também os fenómenos hipnóticos são usados de forma elegante, subtil e com ênfase terapêutico.

Para os profissionais de saúde, a imagem de Hipnose ainda se encontra bastante associada à forma tradicional e mais visual. Isso faz com que muitos se afastem de Hipnose, como uma mais valia terapêutica, ou assumirem que se o cliente não demonstrar um forte impacto de sinais, poderá não estar hipnotizado. 

Psicoterapia não é nem deverá ser uma forma de espectáculo ou de impacto visual. O Psicoterapeuta não é um performer, mas pode ser considerado um artista. A arte do Psicoterapeuta é o uso da relação, da forma criativa com que usa linguagem e técnica, de modo a guiar o cliente num caminho de desenvolvimento pessoal, social, familiar ou profissional. O cliente não precisa de agir desnecessariamente como uma criança de 6 anos, só para mostrar que regrediu, não precisa de estar com o braço levitado ou rijo sem que haja um propósito, a pessoa não precisa de estar com extraordinário movimento ocular de REM, a toda a hora

A meu ver, Psicoterapia é uma forma de arte e Hipnose é uma forma de ajudar a pessoa a ir de ponto A a ponto B

 


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