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Neste texto, gostaria de abordar a minha opinião sobre a forma como Hipnose é tratada, em termos de marketing e serviços e, especialmente, na responsabilidade que profissionais de saúde têm em permitir que certas coisas que não deveriam acontecer, estejam a acontecer.

Sempre que você abre as redes sociais, especialmente Facebook ou Instagram, ou mesmo realize uma procura no Google, em que a palavra-chave será Hipnose, aparecem dezenas de opções, quer para consultas quer para formação. Neste sentido, observamos um crescente na popularização de Hipnose, na nossa sociedade actual. 

Ao mesmo tempo que assistimos a essa evolução, também constatamos o fenómeno de Hipnose estar associada a ditas "terapias alternativas" e espaços com fortes crenças e dinâmicas religiosas. Note que não chamo holístico pois, num texto anterior, apresento a definição de holístico como sendo a integração entre mente, corpo e como essas práticas vão influenciar um através do outro. Considerando essa definição, Psicologia e Psicoterapia podem ser consideradas intervenções holísticas, sendo que existe todo um campo de intervenção nesse tema, talvez mais conhecido pelos trabalhos de Ernest Rossi, antigo aluno de Milton H. Erickson. 

"Terapias alternativas", tal como são consideradas, são todas aquelas que se assumem como um outro caminho, relativamente a terapias convencionais. Imagine que vai a um médico de medicina geral e familiar. Este passa-lhe uma série de medicação para os seus níveis de colesterol ou outros valores que estejam mais elevados. E agora imagine que você decide não os tomar. Você poderá ir a uma ervanária e comprar um conjunto de ervas e chás que, pelas suas propriedades naturais, poderão fazer efeito semelhante à medicação, à partida sem tantos efeitos secundários. Nesse sentido, você está a adoptar uma medida alternativa. 

Antes que você, a pessoa que está a ler este texto, se erga em fúria contra mim, deixe-me dizer-lhe uma coisa: eu não estou contra nem vou insurgir-me contra algo alternativo! Aliás, vou-me insurgir contra os meus, por aquilo que estão a permitir que aconteça. Mas estou a adiantar-me, não quero estragar o final deste texto!

Mas então, onde é que Hipnose se insere neste campo? 

A partir deste momento, em termos históricos, vou distinguir Mesmerismo de Hipnose. Tudo aquilo a que me referir será à técnica, explicação e fundamentação dada por James Braid e por pessoas que vieram após este. Gostaria apenas de deixar a ressalva de que, embora não tenha existido grande investigação cientifica sobre o Mesmerismo (pelo menos a altura), a Comissão composta para apurar a veracidade das práticas de Mesmer deixou a porta aberta para o poder da sugestão ser considerado como algo relevante, mais do que o Mesmerismo.

Durante o período inicial do surgimento de Hipnose, podemos dizer que as suas ideias e práticas eram uma alternativa ao que estava a ser realizado, no que diz respeito à evolução da Medicina desse tempo. Por ter sido incorporada por médicos e futuros psicólogos, uma parte substancial do campo de Hipnose foi levado para a investigação cientifica e para modelos de intervenção médicos e psicológicos. É por isso que no campo da Psicoterapia podemos encontrar Hipnoanálise (Psicanálise + Hipnose), Hipnoterapia Existencial (Terapia Existencial + Hipnose) e Hipnoterapia Cognitiva (Terapia Cognitiva + Hipnose), todas com investigação por detrás, acerca da sua eficácia e protocolos de intervenção. 

No ponto de vista médico, Hipnose é a técnica não farmacológica mais eficaz na intervenção da dor. Em Portugal, este ponto é reconhecido pela Direcção Geral de Saúde, numa norma de 2014, sobre a intervenção não farmacológica na dor neuropática.  

Neste sentido, Hipnose deveria ser uma técnica usual nas intervenções ditas convencionais. Deveria, mas não é! 

A razão pela qual não acontece é uma razão histórica. A dada altura, Hipnose foi descredibilizada por médicos e grandes indústrias farmacêuticas. Esses indivíduos iriam acusar aqueles que praticavam correctamente Hipnose como charlatões, aliados com a industria farmacêutica, dizendo que a medicação era mais eficaz, tanto a nível psicológico, como para efeitos anestésicos. 

O resto da história não tem um final muito feliz para os profissionais de saúde, ficando Hipnose nas mãos de artistas de palco e de entretenimento. 

Actualmente, existem inúmeras sociedades credíveis para o avanço de Hipnose. Sociedades estas que se dedicam ao estudo e formação de profissionais. Existem revistas cientificas organizadas por essas sociedades e também pela Associação Americana de Psicologia, a maior associação de Psicologia do mundo. Mesmo assim, a resistência dos profissionais em aceitarem Hipnose como sendo uma técnica eficaz tem sido imensa.

A consequência desta resistência faz com que pessoas, sem formação no campo da Saúde, possam usar Hipnose e chamarem de uma "Terapia Alternativa". Embora haja casos bem sucedidos, no que envolve a patologias físicas e perturbação psicológicas, a maior parte destas pessoas não se encontra preparada para lidar com a situação, arriscando a deixar a pessoa pior do que quando entrou. 

Hipnose não deve ser visto como uma alternativa, mas sim como mais uma técnica devidamente validada e reconhecida. A responsabilidade cai sobre os profissionais de saúde. São todos os profissionais das áreas da saúde, Médicos, Enfermeiros, Psiquiatras, Psicólogos, Psicoterapeutas e mais, responsáveis pelo que está a acontecer. É a sua falta de aceitação e união que permite a pessoas aproveitarem Hipnose como uma ferramenta de negócio. E Hipnose não deve ser tomada como tal! Estamos a falar da saúde e integridade física e mental da pessoa. É uma enorme responsabilidade!

Cabe aos profissionais de saúde saírem da sua toca e perceberem que a sociedade está a mudar. Nesta área, já existe espaço para que Hipnose seja usada por todos nós, profissionais, mediante a devida educação do público sobre o que é e como deve ser usada. 

Todos nós somos responsáveis para forma como Hipnose é vista. Boa forma ou má forma!

 


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