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Imagine a seguinte situação: numa mesma mesa encontra-se um Psicanalista, um Existencialista e um Cognitivista. Após a apresentação da história de uma pessoa, cada um destes profissionais prontificou-se a explicar o funcionamento da pessoa, com base em cada um dos seus modelos. Finalmente, quando a pergunta sobre qual o modelo será mais eficaz, cada um destes senhores "atira-se à garganta" de cada um! Cada um diz que o seu é melhor e maior!! Será mesmo assim?

Um dos principais contributos de Josef Breuer e Sigmund Freud foi a criação da Psicanálise, um modelo de Psicoterapia com base na teoria psicanalítica. A Psicanálise não só veio revolucionar o mundo da Psicologia, como também a forma como Psicoterapia se fazia e evoluiu, assim como a Psiquiatria

Hippolyte Bernheim e os seus colegas da Escola de Nancy, com base na sua investigação em Hipnose, utilizaram um modelo de sugestão onde o sujeito estaria de olhos abertos e em diálogo com o terapeuta. Esta nova mudança de investigação veio a revolucionar o campo da Psicoterapia, especialmente a utilização e o papel da sugestão, nas intervenções psicoterapêuticas

Mais tarde, as perspectivas existenciais-humanistas, comportamentalistas e cognitivistas vieram a dar origem a vários modelos de Psicoterapia, alguns dos quais continuam a ser os modelos clássicos mais ensinados e utilizados em Psicoterapia. 

Alguns destes modelos nasceram de avanços no campo da investigação cientifica, outros surgiram como resposta a teorias. Todos estes modelos possuem pontos fortes e fragilidades

Com o surgimento de mais modelos psicoterapêuticos, cada representante do seu modelo especifico sentiu a necessidade de afirmar que o seu modelo é superior aos existentes. Assim surge a investigação da eficácia de cada modelo. À partida, este movimento vai beneficiar as teorias que podem ser quantificadas por instrumentos desenhados para o efeito (Terapia Comportamental, Terapia Cognitiva, Terapia Cognitivo-Comportamental, alguns Modelos Existenciais, etc.). O grande perdedor torna-se a Psicanálise, cujo grande objectivo está no inconsciente, um construto que não consegue ser medido por um instrumento especifico. 

Isso significa que Psicanálise não é eficaz? Analistas e pacientes tendem a discordar. 

Ao mesmo tempo, a Terapia Cognitivo-Comportamental assume a liderança desta corrida, com o maior número de artigos a comprovar a sua eficácia perante tudo e todos. Tão eficaz que nos Estados Unidos da América, usando um suporte de seguradoras, é proposto um pacote de sessões cujo número vai flutuando, dependendo da perturbação que estejamos a falar. Actualmente, muitas investigações têm vindo a questionar estes números tão elevados da eficácia da TCC. Iremos retornar a este ponto mais tarde. 

A dada altura, vários profissionais de vários modelos diferentes começaram a trocar ideias entre si. Ao discutirem os seus esforços, estes profissionais acabaram por perceber que estavam a ser vitima do "Veredicto do Pássaro Dodo". Criado em 1936, com base na personagem de Alice no País das Maravilhas, este veredicto da Psicoterapia dita que todas os Modelos, independentemente da particularidade das suas teorias, são igualmente eficazes, a dada altura, para dados sujeitos

Embora controverso e com alguma oposição, este veredicto veio apoiar e incentivar o que é conhecido como a Investigação nos Factores Comuns em Psicoterapia. Este campo de investigação assume a posição do veredicto, concentrando os seus esforços em perceber quais são as variáveis comuns a cada modelo, que tornam Psicoterapia eficaz. Investigações realizadas pelo psicólogo americano John Norcross e colegas demonstram que:

Variância explicada na mudança terapêutica (2002) - Remissão Espontânea (40%); Factores Comuns (30%); Efeitos Placebo (15%); Técnicas Especificas (15%)

Variância não explicada na mudança terapêutica (2011) - Variância Não Explicada (40%); Varáveis do Paciente (30%); Relação Terapêutica (12%); Método de Intervenção (8%); Terapeuta (7%); Outros Factores (3%)

Estas investigações parecem apontar que o caminho a seguir, por parte dos terapeutas, é dar mais peso às características da relação e do paciente, numa posição validante e empática

O que é que isto parece significar? Deixo aqui a minha visão e opinião. 

Em primeiro lugar, não me faz sentido a discussão que "O Meu é Maior que o Teu"! Para além de ser uma discussão antiga e sem sentido actual, este tópico só serve para criar um fosso entre colegas, na própria profissão de Psicoterapia, assim como mina os esforços para melhorar o nosso trabalho, limando os pontos negativos e valorizando os positivos.

Em segundo lugar, parece-me importante o terapeuta investir mais na relação do que estar mais preocupado com as técnicas que vai utilizar. Obviamente que o domínio técnico é essencial, assim como estabelecer e nutrir a relação terapêutica, de modo a que pessoa se sinta ouvida, compreendida e que está a ser tratada como um ser humano e não como um mero objecto, cujo destino é receber as técnicas que o terapeuta entende que são as melhores. 

Em terceiro lugar, faz-me sentido que o terapeuta olhe para a pessoa como um ser único. Esta perspetiva encoraja mais uma "terapia realizada à medida" e afasta mais a intervenção manualizada. Embora a intervenção manualizada seja útil, especialmente no inicio da carreira de um terapeuta, também tende a afastar a individualidade e as características da pessoa, assumindo que para situação X utilizamos a resolução Y, mesmo que ela possa não ser adaptada à pessoa. 

Por último, gostaria de deixar três recomendações a todos os que procuram Psicoterapia. De novo, estas recomendações são as minhas opiniões, você poderá ter outras. 

Primeiro, procure profissionais credíveis. Esteja atento/a a recomendações e depois investigue a pessoa. Veja o seu currículo. Se a pessoa for credível, o seu currículo, a sua postura, a sua visão e missão vão espelhar a credibilidade. 

Segundo, procure profissionais com formação credível e adequada. Psicoterapia exige formação adequada num modelo, fornecida por sociedades acreditadas e reconhecidas para o efeito. Quer o terapeuta seja mais ou menos integrativo, é importante que tenha uma formação terapêutica devidamente reconhecida. 

Terceiro, escolha um terapeuta com que se sinta confortável. Cada terapeuta tem as suas próprias características e o seu próprio estilo. O que é bom para um pode não ser o melhor para outro. É importante que você se sinta confortável na relação que estabelecer. Mesmo que a relação terapêutica não seja uma relação idêntica a uma social ou amorosa, não deixa de ser uma relação. Você terá de passar tempo com a pessoa, de uma forma intensa e regular. É importante que se sinta o mais confortável possível. 


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