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Não é invulgar que elogie as mudanças dos meus clientes, dando o devido mérito. Quantos de vós recebem esses elogios, quando procuram ajudam? Quantos colegas os dão, quando os vossos clientes atingem os seus objectivos? O sucesso é medido só pela eficácia do terapeuta? Ou o cliente tem uma maior parte, do que realmente acha que tem?

O inicio da história da Psicoterapia retrata uma imagem de um Psicoterapeuta todo poderoso, numa posição de autoridade e sapiência, afirmando qual o problema do seu paciente e dando a sua receita. Por outro lado, temos o paciente em sofrimento, num nível de desespero, colocando a sua fé no Psicoterapeuta todo poderoso, bebendo todas as palavras de sabedoria que este tinha para lhe dar

Sem dúvida que esta postura estava muito ligada à Medicina, mais concretamente à Psiquiatria. Não seria de estranhar, considerando que a maioria dos Psicoterapeutas vinha das ciências médicas. De facto, com o surgimento da Psicologia como ciência, nem a sua influência da Filosofia impediu uma enorme absorção do modelo médico, na actuação dos futuros Psicólogos e Psicoterapeutas. 

Muitos tentaram apelar pela empatia, validação e respeito pelo ser humano. Muitos ainda direccionaram as suas intervenções de modo a que o paciente/cliente se tornasse uma peça activa, no processo terapêutico. Contudo, não será injusto dizer que a cultura do Psicoterapeuta todo o poderoso ainda era passado, mesmo que fosse menos visível, para gerações futuras. 

Os dois grandes argumentos para a prevalência desta postura têm sido a defesa da eficácia de cada modelo de Psicoterapia e na eficácia da técnica psicoterapêutica. Embora continuem, a vaga de investigação nos factores comuns, em Psicoterapia, têm vindo a argumentar que todos os modelos de Psicoterapia são eficazes e que a técnica só explica cerca de 5-10% da eficácia dos processos. Por outro lado, a investigação tem vindo a valorizar o estabelecimento da relação terapêutica, empatia, variáveis do cliente, variáveis do terapeuta mas, especialmente, variáveis externas não explicadas do processo

Ou seja, grande parte dos processos evoluem fora do contexto terapêutico, com o possível apoio familiar, social, profissional e de amizades. Evoluem com a interiorização das estratégias que a pessoa aprende em terapia, havendo a possibilidade de as aplicar com possível sucesso. Terapia abre o espaço de reflexão para novas hipóteses, germinando durante uma hora, para depois serem colhidas durante os restantes dias da semana

O terapeuta é uma ferramenta importante para o cliente, sendo que não o acompanha durante o restante tempo. Cabe ao cliente agir e resolver os obstáculos que são colocados nas várias vertentes, da sua vida. 

Ao estimularmos o papel activo do cliente no processo, estamos a dar-lhe mais controlo sob a sua situação, uma maior autonomia e tomada de decisão. Por outro lado, as conquistas têm um sabor ainda mais especial. O cliente foi capaz de colocar em prática as estratégias necessárias, utilizar todos os recursos disponíveis para se mostrar bem sucedido, perante a vida. 

Munir a pessoa de estratégias, trabalhar nos seus recursos, ajudá-lo a perceber soluções, motivá-lo para a mudança, aumentar a sua percepção de auto-eficácia são partes importantes para um processo terapêutico eficaz. Estamos a tornar o cliente no agente da sua mudança. Neste paradigma, o terapeuta não é visto como um superior, mas sim coloca-se numa posição de igualdade, respeitando e valorizando as capacidades do cliente. 

É verdade que o terapeuta tem bastante trabalho e investimento no estabelecimento da relação, empatizando e valorizando o sofrimento do cliente, abrir a sua perspectiva para novas alternativas, trabalhar objetivos e recursos, dar estratégias de coping... Todo este investimento só ganha todo o seu valor a partir do momento em que o cliente usa todos estes "presentes" para subir na escada do sucesso

Quando isso é feito, o mérito é do cliente. Pois, foi ele que escolheu usar esses meios para criar soluções e foi ele que conseguiu aplicar essas soluções, de forma bem sucedida, atingindo os objectivos que se propôs

Esse sucesso pode ser representado em pequenos passos. No inicio, quase sempre o é. Tão pequenos que o cliente pode nem notar o seu crescimento e as mudanças que já conseguiu fazer. Nesse caso, o terapeuta pode enunciar essas diferenças, valorizando o trabalho que o cliente tem feito e como isso faz com que consiga realizar algo novo ou diferente


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