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Sei que poderá ser um "cliché" e que todos têm uma palavra a dizer na atualidade das relações, sobretudo na violência doméstica. Não obstante, aqui fica a minha visão sobre o tema, com especial relevância no contexto de intervenção.

Dizer que o Ser Humano é um animal pode ser uma constatação óbvia. Não deixo de pensar que a história da evolução humana e o facto de estarmos no topo da cadeia, enquanto o ser mais inteligente, faz-nos esquecer que não deixamos de ter uma base animal, cheia de impulsos e necessidades básicas. 

Se pensarmos nos nossos antepassados, eles eram uns caçadores. A violência era algo com que se convivia naturalmente, com o intuito de fornecer comida, habitação e proteção. Embora a selva seja diferente, estes instintos ainda se mantêm ativos.

Podemos pensar que a grande diferença entre o Ser Humano e outros animais, no convívio com a violência, é a nossa capacidade de distinguir o Bem do Mal. Em última instância, é esta distinção e regulação que nos faz conseguir viver em sociedade.

Como se tudo isto não bastasse, ainda temos uma situação tramada: a parte emocional! A maioria dos autores consegue chegar a uma parte consensual de cinco emoções básicas. Para este tema em particular, a emoção que mais interfere é a Raiva. Juntamente com sentimentos de zanga, ira e comportamentos de irritabilidade, passamos para comportamentos violentos.

E claro, não poderia deixar de referir a parte em que substâncias desinibidoras podem acrescentar mais risco. Entre eles estão o álcool, fármacos cujos efeitos secundários podem provocar irritabilidade, agressividade, delírios ou surtos, assim como outras substâncias psicoativas que provoquem efeitos semelhantes aos descritos.

Com esta mistura, juntando a problemas de comunicação, suspeitas de traições, histórias prévias de traumas maus resolvidos, temos então todos os ingredientes necessários para a Violência Doméstica.

Em muitos casos, a Violência Doméstica começa como sendo psicológica, com aspetos de controlo por parte do abusador, o minar da autoestima e a manutenção da dependência. Ao mesmo tempo que é utilizado a noção distorcida que tudo isto é feito por amor.

Na maior parte dos casos, o ato psicológico cresce para ato físico, em que o abusador assume uma perspetiva distorcida em como a vitima o provoca ao ato e que, muitas vezes, é uma manifestação de amor. Este contexto é tão violento que faz com que a vitima viva num constante teatro, em que parece estar tudo bem para familiares, amigos e colegas de trabalho. 

O medo de que a situação piore ou a ideia distorcida que irá perder a única pessoa que irá gostar de si interferem na tomada de decisão de apresentarem queixa, perante as autoridades. Escusado dizer que a Violência Doméstica está contemplada num quadro legal! O que costuma ser um fator decisor é a existência de uma rede de suporte ou a existências de filhos e o receio que possa acontecer algo a eles.

Quando uma vitima de violência chega a Psicoterapia, é importante ter-se em consideração alguns fatores:

- Questões de Identidade: é importante trabalhar a noção da pessoa enquanto ser humano e não como vitima;

- Distorções Cognitivas: pensamentos automáticos negativos podem ser encontrados, como por exemplo "Eu mereci esta situação!", "A culpa é toda minha!", "Fui um(a) fraco(a)!", "Não mereço ser feliz!", "Nunca ninguém irá gostar de mim!", etc.

- Regulação Emocional: será de esperar que a vitima tenha uma grande abundância de Tristeza ou Raiva. É possível que uma venha proteger ou mascarar a outra. O trabalho passa pela regulação e atribuição de significado para emoções e sentimentos;

 - Comorbilidades: o técnico deverá estar atento o surgimento de comportamentos ou quadros mentais, como depressão, ansiedade, perturbação de stress pós-traumático, ideação suicida, distúrbios alimentares, perturbações do sono ou até mesmo comportamentos auto lesivos;

 - Possíveis tentativas ou violações consumadas;

- Trabalho de objetivos e soluções para o futuro;

- Estabelecimento de uma rede de suporte.

Violência, infelizmente, é uma realidade existente e todos nós temos obrigação de a denunciar!

Apoio psicológico, aconselhamento psicológico e Psicoterapia são componentes de apoio essenciais para vitimas de Violência Doméstica!


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